lunes, julio 14, 2014

OccupyFutchibol

1. Fascinante o talento de alguns, o que o corpo humano (ou alguns corpos humanos) consegue fazer. Fascinante também o jogo dos equilibros do acaso: dois centímetros a mais e o moleque pode ficar paraplégico; dois  à esquerda no último dos 120 ou no pênalti final e O Vexame Mundial teria sido uma honrosa derrota em oitavas.

2. Zúñiga, o bárbaro, deu-lhe à mídia dos anfitriões um presente impagável: um melodrama gigantesco, com inimigo estrangeiro e herói inocente amiguinho das crianças. Uma desculpa pronta para qualquer derrota (imaginável)....

3. Amedrontados, os bárbaros concederam ao Campeão da Copa das Copas do Rei Inquestionável os únicos 45 minutos de bom jogo que tiveram. Como a prepotência e o despreparo, o medo também impede ganhar... (afortunadamente duas vezes: 1- nao queria ver os bárbaros serem goleados historicamente, 2- e se o time do Rei de Copas tivesse sido goleado pelos Hermanos na decisão?)

4. Qual guerreiros antropofágicos da Selva Negra, fizeram do rubro-negro seu afim, seduziram-o, comeram-o, e vestiram sua pele para sentir-se donos da sua casa, do seu templo sagrado e matar, em ritual cómico-côsmico-cosmológico ao Rei e ao Fenômeno. Esmola milhonária dos gentis colonizadores para recompensar a dádiva Pataxô.

5. Agradecendo 1: O moleque-gênio de olhos claros alegria-das-crianças e flecha veloz da Indestrutível Armada Imperial agradece o macaco-safado, bárbaro de além-fronteira, quase-um-Sexta-Feira narco-terrorista, e ao seu joelho biônico e tele-dirigido pelas organizações criminosas internacionais, por o ter poupado do vexame histórico.

6. Agradecendo 2: Em casa, dançando, amados e confortáveis, os bárbaros agradecem que o Império, na sua continental benevolência, poupou-os do vexame mundial. De la que nos salvamos!

7. Às vezes, e só às vezes, esquece-se que para chegar no final tem que fazer-se o caminho completo. E às vezes, e só às vezes, quem esquecendo isso pensa-se pré-destinado ao poder régio, confunde os contendores ora com inimigos perversos, ora com prateleiras. Levo três hexas aqui: cada vez mais cadente, mas hexa desde antes de estar pronta a convocatória. 

8. Como um reforço ao patetismo e à ignorância que tornou a terceira vértebra na maior dor nacional (até aquele dia...), alguns vaiaram nao aos moços de amarelinho, nao ao velho capitao, mas a quem, eles achavam, devia ter assinado o cheque que faria do evento mais uma UPP garantida. 

9. Em uma jogada majestosa, Israel bombardeia Gaza. 7 vezes 7 contra um. ...acho fofo quem pensa que a Copa é apenas esporte, apenas um jogo, apenas futebol; que nao é uma guerra. Fofos! Protestos criminalizados, violência de Estado excitada e legitimada, Polícias enlouquecidas e órgãos de gestão da segurança e dos direitos humanos colocando no focinho dos cachorros um pedaço de capucha-de-vándalo... O pior do futebol é a sua capacidade de gerar condições de possibilidade para fascismos, nacionalismos e para sagacidades financeiras.

10. E depois três a zero. A seleção brasileira matou as metáforas e o jogo lírico, prosaico ou argumentativo. Manteve apenas o melodrama ao estilo Globo, como diria meu amigo o colorado elegante. Só nao matou o futebol porque de mantê-lo acesso se ocuparam os outros. O Estado brasileiro se comportou pior que a FIFA. E matou mais que uma metáfora, quando matar é mais que uma metáfora. Fofos!

11. E o jovem gênio de assas nos calcanhares, o nosso Neo particular, o nosso Sherlock rosarino. Messi me doeu.  Tenho certeza que ele nao vive no mesmo plano de realidade que os adversários. ele administra o código e seu tempo, o da Matriz; nao vive no tempo do correr do programa, no nosso. Porém, ainda jovem, parece ter perdido a alma; dói vê-lo nos seus segundos tempos, no final do jogo, caminhar por aquele círculo central apenas com a melancólica lembrança do sol que foi. Entregou-lhe toda sua energia ainda menino à máquina feroz de produção. A alimentou, construiu e cultuou, e já sem alma soube do drama de saber o que fazer, mas nao ter corpo suficiente... saber, saber o Robben, saber o Van Persie, saber o Klose, saber seu irmao Mascherano, saber o Yepes... e nao poder... saber que sabia que nao merecia aquele prêmio, que devia, que devia... e que nao queria...  Nao pôde. A maior e a mais triste das estrelas. Lembrei do Kurt, aquela idade...  ...mas com apenas um raio, o sol ainda é sol.

12. James! 


13. O movimento NaoVaiTerCopa chegou a ser um movimento? Pode chegar a sê-lo? Gostaria de fazer parte de um NaoVaiTerFIFA global, de um OccupyFootball (ou OccupyFutchibol) que nos permita construir copas sem FIFAS, trans-tudo, pós-nacionais, inter-o-que-queiramos. O futebol é um tesouro da humanidade. A FIFA, nao!

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